Perfil da Diretora

Normalmente biografias são escritas por terceiros, mas faço questão de contar uma pequena porção da minha vida na primeira pessoa do singular (eu rsrsrs) com a intenção de mostrar aqui a glória e o poder atuante do meu Deus na vida daqueles que se dispõe a dizer: “Sim, Senhor meu e Deus meu”.
Eu nasci e cresci na Alemanha em tempos difíceis. E quando falo difíceis é porque era difícil mesmo. Tempo da II Guerra Mundial. Tínhamos falta de comida, água, roupas, energia elétrica e, principalmente, de paz. As cidades sendo destruídas por bombardeios, saques e tantas outras calamidades que assolam uma terra em tempos de guerra. Meu pai tornou-se um fugitivo do exército alemão por não aceitar fazer as barbáries que os seguidores de Hitler faziam.
Quando a guerra finalmente teve fim, as coisas ainda demoraram melhorar. Tempo de reconstrução, de deixar para trás um passado cheio de lembranças amargas. Dava para ver nos olhos dos mais velhos a amargura, a vergonha, a saudade daqueles que se foram para nunca mais voltar... Foi em tempos assim que cresci. 
Mas eu, meus irmãos e as crianças daquela época, por mais sofrida que fosse a realidade, ainda habitávamos o jardim da inocência, dos sonhos, das brincadeiras, da infância. 
São dessa época também que tenho as primeiras lembranças do convívio da igreja. Meus pais eram metodistas e ensinaram seus filhos com todo rigor. A geração mais antiga já tem fama de ser muito rígida, ainda mais a geração antiga de alemães. Tínhamos que andar na linha. Porém, podemos ser filhos obedientes aos pais e seguir todos os ritos, mas a decisão em servir a Deus de todo coração é individual, ninguém pode tomar por nós.
Lembro-me que cantava no coral, participava dos cultos da mocidade e até da sociedade das senhoras, mas ainda não tinha me comprometido de fato com Deus e sua obra. No dia 01 de maio de 1959 eu finalmente decidi entregar minha vida a Jesus e, a partir desse dia, Ele começou a falar fortemente comigo sobre o ministério que tinha preparado para mim. Sinceramente, eu tive dificuldades para aceitar o plano de Deus para minha vida e prometi que, quando fosse mais velha, diria ‘sim’ ao meu chamado. 
No dia 30 de setembro de 1959, senti que não podia negar ao ide de Jesus e finalmente orei e disse: “Senhor, o que desejar para minha vida, farei!”. Então, escutei muito claro a voz de Deus falando a mim: “Heidi, seja você uma missionária e então serás muito feliz”. Eu queria ser feliz, custasse o que fosse. E continuou falando a mim: “Abençoar-te-ei e tu serás uma benção”. 
Eu disse ‘sim’ a esse chamado, embora não tivesse noção alguma do que fosse ser uma missionária. Comecei então o longo processo de preparação: Instituto Bíblico na Suíça, inglês na Inglaterra, prática missionária na Alemanha e Inglaterra, fundar grupos de oração em favor do meu ministério. No total foram seis anos de estudo e prática para me tornar apta ao campo missionário.
Além de ser um tempo de grande desgaste físico, também sofri muito com ataques do inimigo, incompreensão familiar, falta de recursos financeiros, enfim, uma série de barreiras que precisei transpor. O mais difícil era ter que ignorar os conselhos aflitos de meus pais dizendo: “Você pode ganhar almas na Alemanha mesmo. Você não precisa ir para um país desconhecido, morar sozinha...”.

Eu os entendo perfeitamente e não era fácil resistir à preocupação deles, mas eu sabia da vontade de Deus para minha vida e dizia: “Se Jesus é Deus, e Ele é, e ainda assim morreu por mim, nenhum sacrifício será tão grande que eu não possa fazer por Ele”.
Por fim, eu estava pronta. Chegara o tempo de despedidas, da separação de amigos e familiares. Lembro-me com exatidão dos meus pais e irmãos indo comigo para a estação de trem onde embarcaria para a Itália. Depois dos abraços e beijos, entrei no trem, acomodei-me e um milhão de coisas passava pela minha cabeça. A cada instante que o trem se afastava eu me sentia mais sozinha... Comecei a chorar amargamente!
No dia seguinte, desembarquei na Itália orientada a não tentar me comunicar com ninguém, pois não falava italiano e correria o risco de ser mandada de volta para meu país.  Embarquei, dessa vez, em um enorme navio rumo ao Chile. 
Nada menos que quatro semanas em alto mar me esperavam. Sozinha, muito jovem, sem falar um idioma que me permitisse me comunicar com outros passageiros, me vi no desespero tão grande que orei pedindo ao Senhor que afundasse aquele navio! Deus, em sua infinita misericórdia, não fundou o navio, mas me fez lembrar que posso todas as coisas naquele que me fortalece.

Finalmente, depois dessas quatro semanas, que mais pareceram anos, cheguei ao Chile. As primeiras e desafiadoras barreiras eram o idioma e as diferenças cultuais. Na verdade, foi quase um choque cultural. Se eu não confiasse que essa era a vontade de Deus para minha vida, eu não teria suportado. 
Aos poucos fui aprendendo o idioma, entendendo a cultura desse país tão diferente do meu. Dois anos depois, tornei-me gerente da maior livraria evangélica do Chile. Mas a maior benção estava por vir: o esposo que Deus tinha preparado para mim.
Conheci o jovem Adan Alvear e no mesmo instante Deus disse claro para mim: “Esse será o seu esposo”. Então, respondi: “Se é assim, fale com ele também”. E Deus uniu as nossas vidas para que fossemos felizes, mas também para que a maior parte do meu ministério pudesse começar.
Meu esposo foi enviado do Chile para o Brasil como missionário. Era o começo de uma nova etapa na minha vida. Novos desafios, novas barreiras para transpor, novo idioma para aprender, nova cultura para entender... Mas dessa vez já estava mais madura e preparada para enfrentar esses desafios.    
                                              
Foi nesse país que pude desenvolver mais profundamente o ministério de missionária pelo qual me preparei durante seis anos da minha vida. Aqui construí minha família, tanto de sangue, quanto espiritual. 
Através do meu testemunho de vida pude ajudar muitos a firmarem seus passos nos santos caminhos do Senhor. Tenho viajado para diversos Estados do Brasil pregando a Palavra do Senhor. Também tenho sido uma auxiliadora ao meu esposo na direção da AIDB nacional.
Tenho, hoje, 71 anos. Destes, quase 50 foram dedicados na obra do Senhor. Do ponto de vista humano, tudo pode parecer absurdo. Imagine: gastar tantos anos numa única causa. Mas, como diz o apóstolo Paulo: “Eu de muito boa vontade gastarei, me deixarei gastar pelas vossas almas”. (II CO 12:15a)